História da Alemanha merece ser enaltecida - uma experiência no Deutsches Fussballmuseum
Por Vitor Rawet (@vitor_rawet), do Chucrute FC*
Beckenbauer, Fritz Walter, Uwe Seller, Sepp Meier, UliHoeness, Gerd Müller, Rummenigge, Matthäus, Kahn, Klose, Schweinsteiger, Lahm e tantos outros. 1954, 1974, 1990, 2014. A história é rica, riquíssima. Diria até "milionária". Não deve a nenhuma outra nação do planeta. Por esse motivo, merece estar gravada para as atuais e futuras gerações conhecerem e desfrutarem do que o futebol alemão já foi capaz de conquistar. No último domingo tive o privilégio e principalmente a felicidade de explorar essa história, ao visitar o Museu do Futebol Alemão, em Dortmund, cidade no oeste do país.
A melhor recomendação é comprar o ingresso pela internet, já que assim pode-se reservar o dia e a hora da visita. Sendo assim, não existe o risco de chegar ao museu e só ter entrada disponível para algumas horas depois ou somente no dia seguinte. O preço do ingresso é de 15 euros para adultos e 12 euros para estudantes de até 26 anos. Por 5 euros a mais, é possível fazer a visita com um guia.
Para chegar ao museu, não existe nenhuma dificuldade, já que fica localizado em frente a principal estação de trem. Isso foi uma grande vantagem, já que no momento em que cheguei em Dortmund chovia granizo e a temperatura baixava de 10 graus. Como só precisei atravessar a rua, logo estava no quentinho do interior do museu. De início vi que tudo era bem organizado, com tradução para o inglês em todas as placas, cartazes e vídeos. Ainda pude deixar minha mochila em um guarda-volumes sem custo adicional e parti para o que mais interessava: poder ver a história que aqueles jogadores citados acima escreveram.
Lá dentro
O primeiro setor é dedicado exclusivamente à história do Nationalmannschaft. Logo que se entra já é possível ver um painel com os onze heróis alemães que derrotaram a Hungria de Puskas na final da copa de 1954. Em frente a esse painel, a bola da partida que decretou o primeiro título mundial para a Alemanha. O melhor, porém, fica na pequena TV da época, onde os lances finais do milagre de Berna eram mostrados com a narração emocionante daquele 04 de julho de 1954.
A partir daí cada Copa (ganha ou não) tem seu espaço. Os principais destaques ficam por conta dos replays exibidos com o polêmico lance protagonizado por ingleses a alemães na final da Copa de 1966. Enquanto os jornais britânicos enalteciam o título conquistado em casa, os germânicos afirmavam com toda a certeza que a bola não havia entrado. A camisa usada por Beckenbauer na final da copa de 1974 é exibida em frente a execução da jogada feita por Gerd Müller em um painel. Jogada essa que deu o gol da vitória sobre a Holanda de Cruyff. O título da Copa de 90 é representado em uma maquete do estádio Olímpico de Roma do dia da final contra a Argentina, assim como as camisas de Matthäus e Maradona usadas naquela ocasião. As três conquistas de Eurocopa também são lembradas.
Em paralelo a isso, há três pequenos setores que se encarregam de mostrar o futebol feminino no país (incluindo os dois títulos de copa em 2003 e 2007 e a copa realizada em casa em 2011, vencida pelo Japão), a história da federação alemã de futebol (DFB) e explicações sobre o futebol praticado na Alemanha Oriental, com importância para a polêmica partida contra a Alemanha Ocidental na copa de 74.
O fim do primeiro setor conta com uma enorme bola mostrando imagens das copas de 2006, 2010 e 2014. Em volta dela, um enorme painel circular que me impressionou ao mostrar objetos raros dessas três copas: A camisa usada por Kahn no jogo em que a Alemanha precisou dos pênaltis para derrotar a Argentina em 2006,as camisas usadas pelo capitão Lahm e pelo autor do gol do título Götze na final em 2014, bem como a bola desse histórico jogo são só alguns exemplos. Até o lendário povo Paul ganha a sua homenagem com uma estátua. O 7x1 não é esquecido, obviamente. Fiquei arrepiado ao ver a flâmula daquele jogo no Mineirão e a camisa vermelha e preta com a qual Klose passou a ser o maior artilheiro da história das copas.
Antes de ir para o segundo setor, um filme 3D de 15 minutos mostra a história do título de 2014 contada pelos próprios jogadores. Começa com Schweinsteiger e Lahm lembrando as duras derrotas nas copas de 2006 e 2010, e explicando a importância que essas derrotas tiveram e a vontade de superá-las. Götze aparece para encenar o gol decisivo, assim como Hummels e Neuer. Dá para dizer que, como atores, eles são excelentes jogadores de futebol.
O segundo setor começa de maneira deslumbrante ao propiciar ao visitante uma visão bem próxima das 4 taças já levantadas pelos alemães em copas do mundo. Ainda que sejam réplicas, não deixa de ser emocionante ver a Jules Rimet e taça FIFA gravadas com o nome do país.Depois disso, é a vez dos técnicos receberem a sua homenagem. Indo de Udo Lattek a Guardiola, passando por Heynckes, Hitzfeld, Trapattoni e Klopp, é possível conhecer as suas histórias e ideias táticas através de vídeos.
Enfim chega a hora de conhecer os times alemães e a história de campeonatos como Bundesliga, DFB Pokal e as competições europeias. Tudo começa com um pequeno corredor contando em detalhes a história do campeonato alemão na era pré-bundesliga, até 1963. O famoso Troféu da Vitória (foto) que era concedido aos campeões nacionais impressiona por sua beleza e imponência. No fim do corredor a famosa Salva de Prata, o troféu atual levantado pelos melhores da temporada, também está exposta.
No hall seguinte seis grandes painéis contam os detalhes da história da Bundesliga, divididos por década, desde o princípio em 1963 até a década atual. Os jornais da época, imagens de jogadores que fizeram história e a contribuição dos mais variados times para o principal torneio nacional ganham destaque. É formada também uma seleção com os melhores jogadores para cada década. Brasileiros como Jorginho, Lucio, Zé Roberto, Elber, Dedê e até Bordon não são esquecidos.
Uma cópia do estúdio da Sky Bundesliga, detentora dos direitos de transmissão do campeonato, permite que o visitante viva os seus momentos de narrador ou comentarista e receba a gravação do áudio por e-mail. Além disso, um pequeno “cinema giratório” mostra jogadas curiosas como frangos de goleiro, gols feitos perdidos e bisonhas tentativas de cavar faltas. As risadas são garantidas. Um grande painel com cachecóis, brinquedos de pelúcia, canecas e objetos inimagináveis de mais de 30 times germânicos fecha a exposição.
Ao se encaminhar para a saída, a última boa surpresa. É possível ver de perto e até mesmo entrar no ônibus em que os jogadores e a comissão técnica se deslocavam durante o mundial de 2014. O Luxo e o conforto são impressionantes. Há ainda um pequeno campo de futebol onde crianças que visitavam o museu batiam uma bolinha. Por fim, foi difícil não comprar nada na loja da Adidas, já que camisas do Nationalelf e principalmente livros despertaram meu interesse.
Mas não tem problema, o dia valeu demais. Cheguei às 13h no museu e fiquei até às 18h. Só saí porque fui “expulso”, já que o local fechava neste horário. Foram 5 horas de visita, 5 horas imerso na história do futebol que me encanta cada vez mais a cada dia que passa. Espero que possa voltar daqui a 10, 20, 30 anos e continuar a ver essa história sendo escrita, com mais Copas do Mundo, mais Eurocopas, mais Bundesligas emocionantes. Foram 5 horas. Pena que foram "só" 5 horas. Queria ficar uma vida inteira.
Confira mais fotos:
*Vitor Rawet mora na Alemanha e colaborou com o texto para o Alemanha FC
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