Auf geht’s Deutschland! - Minha experiência em um jogo da seleção alemã
Na final da copa de 1954, Alemanha e Hungria fizeram um dos jogos mais lembrados da história do futebol. A seleção do leste europeu contava com Puskas e era favorita ao título, mas Fritz Walter e companhia protagonizaram o que ficou conhecido como "Milagre de Berna", garantindo o primeiro título mundial da história da Alemanha. No último sábado, as duas seleções voltaram a se enfrentar e eu tive a alegria e o privilégio de assistir ao jogo na Veltnis Arena, em Gelsenkirchen, cidade no oeste do país.
É bem verdade que a seleção húngara está longe de ter o poderio que teve nos anos 50 e disputará um torneio importante depois de 30 anos, quando jogou a copa do mundo de 86. Além disso, não dá para dizer que o jogo valia muita coisa, já que era apenas um amistoso de preparação visando a Eurocopa para ambas as equipes. Mesmo assim, não faltou estádio cheio e boas histórias em um jogo vencido pela seleção alemã por 2x0.
Tive bastante sorte ao conseguir o ingresso. Cheguei a pesquisar no site da federação alemã com alguns dias de antecedência, mas já não havia mais lugares disponíveis. Quando já não tinha mais esperanças, um amigo meu me disse que estava com um ingresso sobrando no pior lugar do estádio e perguntou se eu estava interessado. Abri um sorriso de orelha a orelha e obviamente topei. O preço? Uma pechincha: “Apenas” 18 euros (R$ 72).
No dia do jogo, saí de casa com uma hora e meia de antecedência para o jogo, já que precisaria pegar um trem até Gelsenkirchen e depois um tram da estação central até o estádio. Percebi o clima de jogo já no trem. Muita gente (inclusive eu) vestido com a camisa do Nationalelf já discutindo como seria o jogo. Alguns torcedores húngaros também ostentavam suas camisas e cachecóis. Até mesmo uma ou outra camisa do Schalke 04, dono do estádio, podia ser vista.
O dia ensolarado e agradável da primavera alemã ajudava a fazer dos arredores da Veltnis Arena um convite a assistir à partida. Famílias inteiras, grupos de idosos e muitas, muitas crianças estavam presentes, várias delas com a bandeira alemã pintada na face. Alguns aguardavam do lado de fora, saboreando uma cerveja gelada, tão presente na cultura alemã. Ao entrar e passar pela segurança (bastante reforçada por conta dos recentes ataques terroristas em Paris), recebi uma revista contendo não só dados sobre o jogo em questão e as fichas dos jogadores, mas também uma perspectiva e uma tabela completa da Eurocopa. Ainda deu tempo de comprar uma cerveja (no meu caso um refrigerante) antes de realmente adentrar as arquibancadas.
Se o estádio não tinha me impressionado muito por fora, por dentro ele é deslumbrante. Um dos mais bonitos que já visitei. Com capacidade para quase 55.000 lugares (em jogos da Bundesliga esse número sobe para 62.000) e mais de 90% ocupado, a atmosfera era incrível. Mesmo o fato da visão do local em que eu estava sentado ser prejudicada por uma barra de ferro (o que estava explícito no ingresso) não me desanimava.
Logo os dois times entraram em campo para a execução dos hinos nacionais. De primeira percebi uma grande diferença com o público brasileiro: o respeito ao hino do adversário. Se na copa do mundo vaiamos o hino chileno, por aqui quando o hino húngaro era tocado, o estádio inteiro estava de pé respeitando, enquanto a pequena torcida húngara o cantava a plenos pulmões. Durante a execução do belo hino alemão, muitos se abraçavam enquanto cantavam para demonstrar o apoio à seleção tetracampeã mundial.
Quando o jogo começou, o gol relâmpago de Draxler fez a torcida se alegrar. Ao ver que ele havia sido anulado (fui saber que o gol fora legal apenas depois), uma sonora vaia ao bandeira e altos xingamentos foram ouvidos. Depois disso, é bem verdade que o jogo foi um pouco morno e a pressão da torcida, apesar de ensaiar alguns gritos ou até mesmo conseguir encaixar outros, não se aproxima do que se verifica em jogos da Bundesliga. Talvez em partidas não amistosas, esse cenário seja diferente.
Mesmo assim, não faltaram momentos divertidos. Por acaso, uma fanática torcedora da Hungria estava sentada perto de mim e cantava sozinha músicas para incentivar sua seleção, arrancando alguns risos, mas fazendo isso sem ser incomodada. Nos vários momentos em que a torcida alemã se animava, ela tentava se sobrepor a cantoria, mesmo que sem sucesso. Além disso, também perto do setor em que eu estava, foram feitas várias tentativas da chamada “ola”. Os torcedores faziam uma contagem regressiva e então começavam com a ola. Nas primeiras vezes, em algum ponto do estádio, ela parava. Foram necessárias umas dez tentativas até que o estádio inteiro seguisse. Em compensação, quando obteve sucesso, durou quase dez minutos.
Quando a Alemanha marcou o primeiro gol validado, nos pareceu que ele havia sido de Götze e assim o locutor anunciou. Só quando cheguei em casa verifiquei que foi na realidade um gol contra. Nesse momento, um bandeirão com a camisa da Alemanha foi erguido atrás de um dos gols.
Após um intervalo em que eu tirei algumas fotos e metade do estádio aproveitou para comprar alguma comida ou bebida, o segundo tempo seguiu na mesma toada. Talvez tenha sido um pouco mais animado, com a torcida puxando o grito de “Auf geht’s Deutschland, schiesst ein Tor” (“Vamos Alemanha, faz um gol”). As tentativas de ola, porém, não deram muito certo, provavelmente com o público já “cansado” delas no primeiro tempo. O segundo gol alemão marcado por Müller deixou as coisas ainda mais alegres. Fiquei impressionado com a pequena torcida húngara, que não deixava de apoiar o time em nenhum momento, mesmo com a derrota de 2x0 no placar.
Ao fim do jogo, os aplausos. Mesmo com uma partida bem mediana, a torcida alemã não vaiou o time em nenhum momento. Digo isso porque com o meu conhecimento de torcida em partidas da seleção brasileira, as vaias em um jogo como esse seriam certas. A imprensa, o time e a torcida alemã dão muito menos valor quando a partida é apenas amistosa.
Já voltando para casa, o clima de jogo ainda persistiu. Com mais uma vez o acaso do meu lado, encontrei no trem a torcedora húngara que sentou perto de mim no estádio. Em uma breve conversa, ela demonstrou boas expectativas com a sua seleção para a Eurocopa e lamentou a derrota para a Alemanha em 1954, dizendo que a única chance de vencer um campeonato mundial tinha ido naquela ocasião. Uma pena que ela está certa, mas bom para a Alemanha, que voltaria a ganhar o mundial mais três vezes. E que venha a Euro! E que venha o tetra!
Mais fotos:
É bem verdade que a seleção húngara está longe de ter o poderio que teve nos anos 50 e disputará um torneio importante depois de 30 anos, quando jogou a copa do mundo de 86. Além disso, não dá para dizer que o jogo valia muita coisa, já que era apenas um amistoso de preparação visando a Eurocopa para ambas as equipes. Mesmo assim, não faltou estádio cheio e boas histórias em um jogo vencido pela seleção alemã por 2x0.
Tive bastante sorte ao conseguir o ingresso. Cheguei a pesquisar no site da federação alemã com alguns dias de antecedência, mas já não havia mais lugares disponíveis. Quando já não tinha mais esperanças, um amigo meu me disse que estava com um ingresso sobrando no pior lugar do estádio e perguntou se eu estava interessado. Abri um sorriso de orelha a orelha e obviamente topei. O preço? Uma pechincha: “Apenas” 18 euros (R$ 72).
No dia do jogo, saí de casa com uma hora e meia de antecedência para o jogo, já que precisaria pegar um trem até Gelsenkirchen e depois um tram da estação central até o estádio. Percebi o clima de jogo já no trem. Muita gente (inclusive eu) vestido com a camisa do Nationalelf já discutindo como seria o jogo. Alguns torcedores húngaros também ostentavam suas camisas e cachecóis. Até mesmo uma ou outra camisa do Schalke 04, dono do estádio, podia ser vista.
O dia ensolarado e agradável da primavera alemã ajudava a fazer dos arredores da Veltnis Arena um convite a assistir à partida. Famílias inteiras, grupos de idosos e muitas, muitas crianças estavam presentes, várias delas com a bandeira alemã pintada na face. Alguns aguardavam do lado de fora, saboreando uma cerveja gelada, tão presente na cultura alemã. Ao entrar e passar pela segurança (bastante reforçada por conta dos recentes ataques terroristas em Paris), recebi uma revista contendo não só dados sobre o jogo em questão e as fichas dos jogadores, mas também uma perspectiva e uma tabela completa da Eurocopa. Ainda deu tempo de comprar uma cerveja (no meu caso um refrigerante) antes de realmente adentrar as arquibancadas.
Se o estádio não tinha me impressionado muito por fora, por dentro ele é deslumbrante. Um dos mais bonitos que já visitei. Com capacidade para quase 55.000 lugares (em jogos da Bundesliga esse número sobe para 62.000) e mais de 90% ocupado, a atmosfera era incrível. Mesmo o fato da visão do local em que eu estava sentado ser prejudicada por uma barra de ferro (o que estava explícito no ingresso) não me desanimava.
Logo os dois times entraram em campo para a execução dos hinos nacionais. De primeira percebi uma grande diferença com o público brasileiro: o respeito ao hino do adversário. Se na copa do mundo vaiamos o hino chileno, por aqui quando o hino húngaro era tocado, o estádio inteiro estava de pé respeitando, enquanto a pequena torcida húngara o cantava a plenos pulmões. Durante a execução do belo hino alemão, muitos se abraçavam enquanto cantavam para demonstrar o apoio à seleção tetracampeã mundial.
Quando o jogo começou, o gol relâmpago de Draxler fez a torcida se alegrar. Ao ver que ele havia sido anulado (fui saber que o gol fora legal apenas depois), uma sonora vaia ao bandeira e altos xingamentos foram ouvidos. Depois disso, é bem verdade que o jogo foi um pouco morno e a pressão da torcida, apesar de ensaiar alguns gritos ou até mesmo conseguir encaixar outros, não se aproxima do que se verifica em jogos da Bundesliga. Talvez em partidas não amistosas, esse cenário seja diferente.
Mesmo assim, não faltaram momentos divertidos. Por acaso, uma fanática torcedora da Hungria estava sentada perto de mim e cantava sozinha músicas para incentivar sua seleção, arrancando alguns risos, mas fazendo isso sem ser incomodada. Nos vários momentos em que a torcida alemã se animava, ela tentava se sobrepor a cantoria, mesmo que sem sucesso. Além disso, também perto do setor em que eu estava, foram feitas várias tentativas da chamada “ola”. Os torcedores faziam uma contagem regressiva e então começavam com a ola. Nas primeiras vezes, em algum ponto do estádio, ela parava. Foram necessárias umas dez tentativas até que o estádio inteiro seguisse. Em compensação, quando obteve sucesso, durou quase dez minutos.
Quando a Alemanha marcou o primeiro gol validado, nos pareceu que ele havia sido de Götze e assim o locutor anunciou. Só quando cheguei em casa verifiquei que foi na realidade um gol contra. Nesse momento, um bandeirão com a camisa da Alemanha foi erguido atrás de um dos gols.
Após um intervalo em que eu tirei algumas fotos e metade do estádio aproveitou para comprar alguma comida ou bebida, o segundo tempo seguiu na mesma toada. Talvez tenha sido um pouco mais animado, com a torcida puxando o grito de “Auf geht’s Deutschland, schiesst ein Tor” (“Vamos Alemanha, faz um gol”). As tentativas de ola, porém, não deram muito certo, provavelmente com o público já “cansado” delas no primeiro tempo. O segundo gol alemão marcado por Müller deixou as coisas ainda mais alegres. Fiquei impressionado com a pequena torcida húngara, que não deixava de apoiar o time em nenhum momento, mesmo com a derrota de 2x0 no placar.
Ao fim do jogo, os aplausos. Mesmo com uma partida bem mediana, a torcida alemã não vaiou o time em nenhum momento. Digo isso porque com o meu conhecimento de torcida em partidas da seleção brasileira, as vaias em um jogo como esse seriam certas. A imprensa, o time e a torcida alemã dão muito menos valor quando a partida é apenas amistosa.
Já voltando para casa, o clima de jogo ainda persistiu. Com mais uma vez o acaso do meu lado, encontrei no trem a torcedora húngara que sentou perto de mim no estádio. Em uma breve conversa, ela demonstrou boas expectativas com a sua seleção para a Eurocopa e lamentou a derrota para a Alemanha em 1954, dizendo que a única chance de vencer um campeonato mundial tinha ido naquela ocasião. Uma pena que ela está certa, mas bom para a Alemanha, que voltaria a ganhar o mundial mais três vezes. E que venha a Euro! E que venha o tetra!
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belo relato.
ResponderExcluirsó ma reclamação: você esta na Alemanha e prefere refrigerante a cerveja? o que é isso?
Cadê sua foto ?! Não tomar uma cerveja alemã ! Para mim não seria considerada visita !
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